Tarifaço dos EUA: impactos imediatos observados no mercado brasileiro de carne bovina

Recordes em julho, novos mercados em foco e medidas do governo definem os próximos passos da carne bovina brasileira


1. Exportações em julho/2025 bateram recorde, e qual o cenário para agosto

Em julho de 2025, as exportações brasileiras de carne bovina alcançaram volume e receita históricos: 313 mil toneladas exportadas, aumento de 17% em relação a julho de 2024, com US$ 1,6 bilhão em receita, incremento de 48,4% (ABIEC). Já o embarque de carne in natura, isoladamente, chegou a 276,8 mil toneladas, 15,3% a mais que junho e 4% acima do recorde anterior, com receita de R$ 9,2 bilhões. Esses dados indicam que o setor acelerou embarques antes da efetiva entrada em vigor das tarifas de 50%, confirmadas a partir de 6 de agosto. Para este mês, a expectativa é de redução no volume destinado aos EUA, mas com diversificação para outros mercados.

2. Diversificação acelerada: novos destinos e mercados em foco

O Brasil vem intensificando vendas para: México (crescimento de quase 197% em volume no acumulado do ano); União Europeia (+50% no volume); Oriente Médio, Sudeste Asiático e Leste Europeu; Japão, que abriu mercado para carnes de três estados do Sul. Esses destinos estão absorvendo parte da carne antes destinada ao mercado norte-americano.

3. Pacote de R$ 30 bilhões para exportadores

Em resposta ao tarifaço, o Governo brasileiro anunciou um pacote de R$ 30 bilhões para apoiar setores exportadores impactados, incluindo a cadeia da carne bovina. O pacote envolve: linhas de crédito com juros reduzidos para capital de giro e manutenção de operações; apoio a missões comerciais para abertura de novos mercados; programas de promoção internacional dos produtos brasileiros. A medida busca evitar queda brusca na receita das empresas e preservar empregos, além de dar fôlego enquanto novos compradores são prospectados.

4. Ações da ABIEC e interlocução diplomática

A ABIEC, junto a grandes frigoríficos e o Governo brasileiro, vem atuando diretamente com parlamentares e representantes dos EUA, buscando excluir a carne bovina das tarifas. O setor estima perdas de até US$ 1 bilhão anuais se a medida permanecer integralmente.

5. Pressão inflacionária nos EUA e efeito dominó nos preços globais

Nos Estados Unidos, a carne bovina acumula alta de quase 9% em 2025; carne moída subiu 12,4% e bifes 10,3%. A busca por carne de outros fornecedores (Uruguai, Argentina, Austrália, Paraguai) tende a elevar preços internacionais, mantendo o Brasil competitivo em outros mercados.

Os efeitos observados até o momento representam apenas o impacto inicial e de curto prazo do tarifaço norte-americano sobre a carne bovina brasileira. Nas próximas semanas, o cenário poderá se modificar com o avanço das negociações diplomáticas, a efetivação de novos mercados compradores e a adoção de mecanismos para conter a inflação da carne nos Estados Unidos. A tendência é que ajustes estratégicos, tanto no Brasil quanto nos EUA, definam o alcance real e a duração dos impactos sobre preços, exportações e relações comerciais.