Animal castrado é melhor do que inteiro?

A castração dos machos é uma prática tradicional na pecuária de corte. Seu intuito é eliminar os efeitos dos hormônios produzidos nos testículos, deixando o animal mais dócil e facilitando o manejo.


Você sabia que além do sexo, idade, genética, manejo e nutrição do animal, a condição sexual também exerce grande influencia nas características da carne que comemos?

“Andréa, o que você quer dizer com “condição sexual”? Resumidamente é se o animal é inteiro ou castrado.

A castração dos machos é uma prática tradicional na pecuária de corte. Seu intuito é eliminar os efeitos dos hormônios produzidos nos testículos, deixando o animal mais dócil e facilitando o manejo. Mais um benefício da castração é que o animal castrado possui maior facilidade de depositar o que chamamos de gordura de acabamento de carcaça, que recobre e protege os cortes comerciais de carne como contra-filé, coxão mole e picanha, preservando a sua qualidade. Não fosse isso, quando o animal não é castrado ele sofre mais estresse no período que antecede o abate (durante o transporte até o frigorífico, por exemplo), o que muitas vezes resulta em uma carne dura e escura, fato que acontece menos com animais castrados.

Ou seja, o animal macho pode ser inteiro classificado como castrado cirúrgico e imunocastrado. E o que muda entre eles?

O animal inteiro é aquele que mantém suas características de gênero, tendo grande influência hormonal sobre seu comportamento.

O animal castrado cirurgicamente é o que foi submetido a castração convencional, normalmente antes de ir ao confinamento ou três meses antes do abate no caso de animais terminados no pasto;

O animal castrado imunologicamente passa por um processo de vacinação, semelhante ao que é feito com a febre aftosa, que tem por objetivo inibir a produção hormonal por um período determinado;

Por conta do avanço do conhecimento dos consumidores, hoje mais conscientes e exigentes em relação aos produtos disponíveis ao mercado, a médica veterinária e doutoranda da USP de Pirassununga-SP, Lenise Freitas Mueller decidiu pesquisar em sua dissertação sobre a “Influência da condição sexual sobre o desempenho, características da carcaça e qualidade da carne de bovinos cruzados Angus x Nelore terminados em confinamento”

Na coleta de dados, foram usados quatro perfis de animais: castrados cirurgicamente, imunocastrados, inteiros e novilhas, todos F1 Angus X Nelore, terminados após 190 dias em confinamento e abatidos com 20 meses de idade.

Segundo a veterinária, é compensatório para o pecuarista que busca produzir carne de qualidade apontar seu sistema de produção para os animais castrados.

“Principalmente pela característica apresentada por esta categoria para a qualidade de carne, em termos de pH, de cor da carne, de maciez, em função do estresse que o animal inteiro tem no pré-abate que traz estes problemas de qualidade, também em função da melhor deposição de gordura, do perfil desta gordura, então compensa, sim”, afirmou a doutoranda.

Outro ponto interessante observado pelo levantamento foi que o perfil da gordura depositada nas carcaças das novilhas e dos machos castrados foi mais saudável em comparação com a gordura das carcaças dos animais inteiros em função da presença de Omega-3, Omega-6 e CLA (ácido linoleico conjugado), compostos favoráveis para a saúde humana.

Em outro trabalho da Embrapa, estudou-se o efeito da castração sobre a qualidade da carne de bovinos machos mestiços Nelore-Simental, abatidos com idade entre 11 e 14 meses.

Na carne crua dos dois grupos (inteiros e castrados) não houve variação estatística quanto ao pH e aos parâmetros de cor. Já o contra-filé assado dos castrados apresentou-se significativamente mais macio (4,78 contra 6,42 kgf), mais gorduroso (6,2 contra 4,4% na base úmida) e com maior perda por gotejamento de gordura durante a cocção (3,2 contra 2,2%).

Não fica dúvidas que o tema é super relevante e a ajuda ainda mais a produzirmos carne de altíssima qualidade, respeitando as características do animal, seu comportamento e bem estar.

O post foi baseado no artigo publicado no Giro do Boi e no site da Embrapa e o TC vai entrar em contato com os pesquisadores para marcarmos um bate papo pra trazer mais conteúdo pra você!